Ações Confusas, Ideias Sensatas
Existem alguns lugares que são
esquecidos pelo resto das pessoas. Lugares assim são propensos a gerar
personalidades peculiares e, na maioria das vezes, extremamente expansivas.
Digo isso porque muitos dos grandes gênios da matemática, da medicina e etc.,
vieram de lugares quase que intocáveis pelo resto de suas respectivas nações.
Esses tipos de mentalidades não se
limitam apenas à ciência, muito pelo contrário, tais mentes estão mais voltadas
para a exclusão de seu meio de convívio do que para as atividades sociais.
Há cerca de dois anos, um homem
chamado Rajid, era mais conhecido como “Sing”
(palavra em inglês que significa cantar).
Rajid foi encontrado morto em um beco nas ruas de Jacarta, capital da
Indonésia. Esse homem era conhecido pela série de homicídios que cometera
durante os nove anos em que esteve foragido da prisão.
Rajid é um exemplo de ser que nasce
em meio ao esquecimento. Durante toda sua vida, Rajid foi obrigado a conviver
com as péssimas condições de vida e de sobrevivência. Sabemos que a Indonésia
não é um país tão desenvolvido, além disso, a taxa de expectativa de vida é
baixíssima em relação aos outros países. Porém na cidade de Rajid, esse número
não passava dos vinte anos de idade.
Entre pequenos furtos e infrações,
Rajid alternava a sua infância entre reformatórios e trabalho forçado. Sua
esperança de que um dia a sua família pudesse melhorar de vida nunca era
diminuída. Por esse e outros motivos, Rajid não teve, realmente, uma infância
proveitosa. Sem contar as diversas vezes em que o pequeno garoto escapava com
sucesso dos reformatórios e das mãos dos policiais locais, até cometer seu
primeiro homicídio, ou melhor, seus primeiros homicídios.
Era uma noite em 1999, Rajid tinha
apenas oito anos de idade. Sua família acabara de perder alguém inestimável, o
patriarca e conselheiro da família. O
pai de Rajid devia quantias exorbitantes ao governo local, o mesmo governo que
cobrava impostos absurdos e que era responsável por uma onda de medo entre os
habitantes pelo fato de buscar o pagamento em forma de vidas, não em dinheiro.
Não foi diferente com o pai de Rajid. O devedor foi queimado em praça pública
por não ter pago as quantias estabelecidas, servindo como exemplo para os
demais “escravos”. Aquela cena não provocava tristeza no coração de Rajid.
Ao ver seu pai sendo queimado
lentamente em meio ao choro de seus familiares, Rajid apenas pensava nas
verdadeiras causas daquele fato inquestionável. Entre todas as pessoas que
estavam presenciando aquela cena de horror, Rajid era o único que se mantinha
calmo e extremamente paciente, apenas observando, sem derramar lágrimas ou
berrar por misericórdia. Antes de seu pai perder a vida naquela fogueira, Rajid
deu a costas e saiu em meio ao tumulto. A manhã veio e Rajid ainda não havia
retornado, e foi assim durante todo o dia, sem um único sinal do menino.
No dia seguinte, Rajid havia
retornado à sua casa. Toda vez que Rajid chegava, ele lavava as suas roupas com
a água suja de uma pequena lagoa, não só ele, mas todas as donas de casa do
vilarejo faziam o mesmo. Entre as sujeiras que carregava consigo, uma delas
eram pelos de animais que matava para preparar as refeições de sua família,
sejam eles silvestres ou não, e juntamente com o pelo vinha o sangue dos
animais. Dessa vez, sua roupa não tinha pelo algum, apenas sangue, e não era
pouco.
A noite foi longa demais. Os
gabinetes do governo estavam milagrosamente silenciosos. Sempre que a madrugada
precedia a noite, algum zelador ou zeladora passava por lá para fazer a faxina,
afinal eles possuíam as chaves de todos os escritórios e salas. Dessa vez era
um zelador.
O simpático homem abriu a porta
principal lentamente, entrou, tirou os sapatos e fechou a porta. Caminhou
silenciosamente pelas salas e escritórios, esfregando o chão, lustrando os
móveis, limpando as paredes e quadros com fotos dos governantes. Entre todas as
salas que passou apenas uma estava com as luzes acesas, era a sala do prefeito.
O humilde zelador pensou que alguém havia se esquecido de apagá-las, e aquela
sala era a única que ele ainda não havia limpado. Procurou pela chave da sala e
empurrou-a na fechadura.
À medida que abria a sala, um odor
comum exalava dela. Não era comida nem mesmo o cheiro dos papéis, era algo que
ele sentia quando se feria. O cheiro forte tomava conta do espaço e impregnava
em tudo que estava em volta. O zelador tampou o nariz e nem mesmo viu o que
estava lá dentro, apenas se virou para fechar a porta. Quando se virou para o
ambiente, vira uma cena que nunca mais lhe sairia da mente. Eram oito corpos,
todos empilhados como se fossem meras sacas de lavagem.
Os oito corpos estavam cobertos de
sangue, não só os corpos, mas as paredes da sala estavam cobertas. A maioria
das marcas de sangue nas paredes eram de golpes desferidos com violência
espirrando nelas, outras eram marcas de mãos ensanguentadas que pareciam ter se
arrastado desesperadamente. Alguns dos corpos estavam sem braços, pernas, ou
até mesmo decapitados. Entre as vítimas havia mulheres, e todas elas estavam
nuas, enquanto alguns homens estavam nus e outros não. No total eram duas
mulheres e seis homens, sendo que quatro deles estavam nus e os restantes
vestidos.
Em meio aquela cena dantesca e
horrenda, havia uma pequena mesa redonda no centro da sala. Entre todos os
móveis aquele era o mais sujo de sangue, e, além disso, possuía algo escrito:
“Just
sing a song”
“Apenas
cante uma música”
O zelador, perplexo, leu a frase em
um idioma diferente do seu e não entendeu, porém elas significavam muito mais
do que “apenas cante uma música”. O
homem saiu da sala no mesmo instante, e nem mesmo apagou as luzes. Correu para
a delegacia local e descreveu a cena de uma maneira simples e rápida, afinal
não queria manter aquilo em sua mente. Os policiais de plantão seguiram o
zelador e analisaram o local do massacre.
Peritos vieram da capital para fazer
laudos e elaborar hipóteses, porém elas eram muito óbvias. Segundo um dos
peritos, o que foi aceito como mais coerente, os assassinatos se sucederam da
seguinte maneira:
“Suponhamos
que o assassino tenha chegado ao local do crime de modo imperceptível. Trazia
consigo um punhal afiadíssimo e sua sede por vidas. O assassino escondeu-se até
o momento propício. Os oito funcionários, incluindo o prefeito, se encontrariam
na sala para discutir algum assunto aleatório, o que não vem ao caso, porém
esse assassino não cometeu os crimes de modo consecutivo. Ele esperou a
primeira vítima chegar a sala e logo depois desferiu os golpes com o punhal,
matando-a, fazendo dessa maneira com os sete restantes. A nudez das mulheres
explica a molesta, assim como a nudez dos homens.”
O perito acertou em apenas um ponto:
o assassinato cometido por uma única pessoa, o que era o suficiente para levar
alguém à prisão naquela cidade. Tendo isso como base, eles analisaram cada
marca deixada pelo assassino, das pegadas ao toque de mãos nuas. Eles não
acharam resultado algum, apesar de ter o DNA do assassino.
A frase na mesa redonda ainda era
inexplicável.
A cidade era pequena, então os
policiais fizeram perguntas para cada morador, porém não encontraram resposta
para nada. A única casa que eles não visitaram era a de Rajid. A casa de Rajid
se localizava em um morro próximo a capela da cidade, um lugar um tanto
perigoso para se viver devido aos constantes desabamentos provocados por fortes
chuvas na região. Eles entraram na casa após um bom tempo batendo palmas e
gritando por alguém, a porta estava apenas encostada. Ao entrar se depararam
com uma cena incomum: todos da família estavam sentados e quietos nos sofás e
nas cadeiras caindo aos pedaços. Os policiais se perguntaram o porquê de
ninguém ter ido atendê-los sendo que estavam todos lá, uma situação realmente
suspeita.
Mesmo os policiais invadindo a casa da
estranha família, nenhum deles se manifestava de alguma forma, apenas ficavam
olhando para o nada, como se a vida de cada um ali se resumisse em passar os
dias e as noites sentados e imóveis. Passaram pela sala e nem se atreveram a
perguntar algo.
Ao fundo da casa havia uma criança
brincando, era Rajid. O menino pintava um papel em branco com um giz de cera
vermelho, escrevendo algo. O policial aproximou-se e perguntou:
-O que está desenhando pequenino?
Rajid
continuou a pintar em diversas direções o papel. O policial não deu muita
importância e continuou com outra pergunta:
-Sabe
de alguma cois...
O
policial foi interrompido pelo menino assim que Rajid levantou o papel para o
seu rosto, dizendo:
-Você
faz muitas perguntas moço, o que acha de apenas cantar uma música...?
Ambos travaram com a frase do
garoto, a mesma frase que estava escrita na mesa redonda estava escrita no
desenho dele. No primeiro momento eles hesitaram, porém era algo muito grave
para deixar qualquer detalhe passar. Eles interromperam a brincadeira de Rajid
e o levaram para a delegacia. Rajid não demonstrou qualquer resistência.
Os peritos tiraram amostras do DNA
de Rajid e compararam várias vezes com as digitais impressas na cena do crime,
sendo que cada uma delas tinha apenas um resultado; Rajid era o tão procurado
assassino.
Era inaceitável para eles encaixar
Rajid como o autor de um crime tão bárbaro, crime que envolvia estupro, tortura
e esquartejamento. Tempos depois, as investigações chegaram a conclusão de que
Rajid forçara os homens a abusar das duas mulheres, sendo que dois deles não
participaram da orgia. Apesar de ser apenas uma criança com oito anos de idade,
o menino foi levado para uma prisão de segurança máxima dessa vez, não para um
simples reformatório. Mandá-lo para o reformatório seria como mandá-lo para o
céu depois de ter blasfemado contra Deus.
A sua ida para uma prisão não
significava absolutamente nada, afinal já estava acostumado a estar separado da
sociedade.
As
condições de convivência daquele lugar excediam as características de sua
cidade. Para todo lado que direcionássemos nossa visão, identificaríamos
insetos de todos os tipos, além das ratazanas e das doenças que se contrariava
naquele lugar. O cheiro insuportável da urina misturava-se com o cheiro dos
detentos que se encontravam aglomerados em cada uma das celas. Em pelo menos um
dia se tinha duas ou três mortes, o que sempre abria espaço para cinco ou seis
detentos. As visitas eram proibidas para a segurança da população e
principalmente, para a segurança das mulheres, afinal muitas eram estupradas e
torturadas até a morte pelos próprios detentos.
Os
detentos em sua necessidade sexual insaciável faziam dos mais jovens seus
brinquedinhos. Com Rajid não teve exceções. O menino era molestado todos os
dias, e, além disso, seu corpo definhava a cada hora que passava ali. A
alimentação era escassa e pouco nutritiva, o que fazia com que a prisão fosse
apenas mais um buraco sujo, onde se jogam vermes para brigar e cometer
canibalismo.
Após
cinco meses no inferno, Rajid perdeu sua consciência totalmente. A sua
mentalidade assassina alcançou níveis extremos, bem piores do que no seu
primeiro ato sádico. Todos os homens que o molestavam começaram a ser mortos de
alguma forma. Alguns eram encurralados pelo garoto em becos escuros e perdiam
suas cabeças, outros tinham seus órgãos genitais decepados e logo depois eram
esquartejados. A partir desse momento, Rajid matara os detentos e logo depois
fizera de sua carne seu alimento diário. Aos poucos os assassinatos absurdos
chegavam aos ouvidos dos outros confinados, fazendo com que o respeito por
Rajid aumentasse, porém ainda havia homens que tentavam estuprá-lo. Todos os
que tentaram ou que fizeram de Rajid um brinquedo sexual estavam todos
apodrecendo pelas celas, mortos de forma brutal e demoníaca.
Em
todos os seus assassinatos, Rajid costumava cantar alguma música. Ele gostava
muito das músicas em inglês, principalmente das músicas dos Beatles. Seus feitos finalmente chegaram
aos ouvidos da administração da penitenciária, logo foi mandado para o lugar
mais sombrio e amaldiçoado daquele lugar, a “solitária”.
A
“solitária” tinha esse nome, porém ela estava lotada por presos realmente
perigosos, uma consideração feita apenas a genocidas. Um cubículo fétido,
repleto de riscos nas paredes, normalmente feitos com unhas ou dentes. O lugar
nunca era limpo por alguém, pelo contrário, a sujeira mantida era totalmente
proposital. As paredes e o chão estavam cobertos por sêmem, sangue, fluidos e
sobras de necessidades fisiológicas deixadas peles presos. Os confinados não
tinham direito à comida e nem mesmo contato com o resto da prisão, ficavam ali
por tempo indeterminado. O único contato que faziam era quando a porta era aberta
para a chegada de mais um condenado. Quem fosse lançado á “solitária” estava
certo de que morreria da pior forma possível.
A
porta de metal abriu-se e liberou um dos odores mais fétidos e asquerosos do
mundo. O jovem Rajid caminhou lentamente até a entrada da sala, sem se importar
com o cheiro ou com os presos que o chamavam, prontos para tentar molestá-lo.
Ele entrou e foi coberto por uma nuvem de braços imundos e feridos. A porta foi
fechada para a criação de uma mente satânica.
Cerca
de dois meses se passaram e a “solitária” ainda não tinha sido aberta. Era
perigoso até mesmo para os policias que andavam armados até os dentes. Eles não
tinham a mínima ideia do que estava acontecendo ali, naquele cubículo moldado
pelas mãos de Lúcifer.
Após
alguns dias, os gritos que ecoavam pelas celas próximas á “solitária” foram
cessados. Ao invés de gritos, ouvia-se uma voz de criança, parecia estar
cantando uma música dos Beatles:
“Cellophane flowers of yellow and
green
Towering over your head
Look for the girl with the sun in
her eyes
And she’s
gone
Enquanto Rajid cantava, os presos
tinham a atenção voltada apenas para a sua voz. O detendo mais sádico daquela
penitenciária, estava agora cantando uma das músicas mais lindas dos Beatles.
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the…
Quando
ia terminar o refrão, Rajid foi interrompido pelo barulho da porta de metal
abrindo-se. Um dos policiais acendeu sua lanterna e observou o lugar, tendo um
choque na alma.
Havia
cerca de vinte corpos espalhados pelo cubículo. Alguns já estavam em estado de
decomposição, outros estavam mortos há pouco tempo. Todos os corpos possuíam
mordidas ou cortes profundos. Rajid mantinha seus olhos fixos para o policial
perplexo. Havia algo escrito com sangue na parede atrás de Rajid:
“Sing
with me, my love”
“Cante comigo, meu
amor”
A
mente de Rajid era realmente um quebra-cabeça. Pensamentos e ações tão sádicas
e obscuras, porém ainda existia a palavra “amor” em seu vocabulário. Rajid
ainda não se esquecera dos momentos que teve com seu pai, por mais que muitos
desses momentos não fossem tão perfeitos, ele ainda conseguia alcançar o
sentimento da felicidade caminhando com ele.
Rajid e seu pai gostavam de cantar
durante as tardes naquela cidade tão vazia e cheia de perigos, era um momento
individual para Rajid, mas acabava tornando-se algo em família.
O garoto abaixou o olhar para o
carcereiro, perdeu o controle sobre os seus sentidos e desmaiou, entrando em
coma por dois anos.
Quando acordou do sono profundo,
Rajid perdera todas as suas memórias sobre sua família, sua cidade e o seu ser.
Não estava interessado em saber quem era, muito menos saber quem estava
envolvido com seu passado.
A
única coisa que Rajid tinha em sua mente era o desejo por sangue, o desejo de
pela carne humana. Ele queria sentir prazer apenas machucando as pessoas, não
queria saber de coisas como sexo ou drogas, ele queria alimentar-se da dor
alheia. Não fazia conta por comida e muito menos por vestimentas. Desde o dia
em que matou os oito funcionários do governo, Rajid nunca abriu mão de sua faca
de cozinha, com a qual matara todos até aquele momento, nem mesmo estando sob
observação no coma conseguiram apreendê-la. O garoto matou as enfermeiras,
médicos e guardas que estavam por ali, todos por decapitação.
Saiu
de lá com a mesma roupa com a qual desmaiou e que o vestiu durante o coma. Os
portões de entrada da penitenciária era o seu portão de saída. Com a faca na
cintura, Rajid correu por entre as guaritas e matou cada guarda vigilante,
desde os snipers até os que ficavam à
paisana. Abriu o portão com a sua força de menino e estava entregue ao mundo.
Andou
vários quilômetros desorientadamente, sem saber para onde ia ou onde iria
descansar, ele queria apenas saciar sua vontade inumana. As estradas não
pareciam ter fim, pela primeira vez em sua vida Rajid fazia contato com o mundo
exterior, porém sua vontade de matar excluía sua curiosidade por esse novo
mundo.
A
penitenciária ficava apenas a alguns quilômetros da capital Jacarta. Ao andar
sem saber para onde ia, seus instintos inclinados para o assassinato detectavam
algo grande. O movimento dos carros se tornava cada vez mais intenso. As largas
pistas começavam a ter ramificações. As estradas de terra começaram a se tornar
pavimentadas e a movimentação das pessoas nunca foi tão frenética aos seus
olhos tão desacostumados.
A
capital da Indonésia assemelha-se com os centros comerciais indianos: movimentados,
pouco organizados e, na maioria dos estabelecimentos e edificações, com
ambiente insalubre e bastante precário. Roupas, comidas, utensílios, móveis,
imóveis, tudo isso era negociado, trocado, vendido. O ambiente capitalista em
uma nação pouco desenvolvida tende a tomar proporções exageradamente
desorganizadas. Rajid, um garoto de apenas onze anos de idade foi obrigado a
conviver com isso. Seus impulsos assassinos adormeceram frente à ganância do
homem para lucrar cada vez mais. Aquela situação onde pessoas vendem tudo o que
tem para garantir seu sustento não era incomum para Rajid, porém ele não se
lembrava de nada sobre isso em sua vida.
Era
bem mais difícil isolar-se de uma sociedade que não conseguia parar de se
movimentar. As noites regadas de luxúria, prostituição, drogas, álcool e outras
coisas pecaminosas se tornaram cenas insuportáveis para a sua mente tão
complexa. Rajid tentava fugir desse tipo de coisa, porém uma formiga perdida em
meio a predadores sabe que é inútil tentar escapar. Para todo lado que Rajid se
dirigia, ele era aliciado de alguma forma.
Logo
descobriu que o mundo não passa de uma corrente de coisas boas em sua
superfície, porém as coisas más do mundo são as ligações dessas correntes. A
vida na cadeia, inconcebível pelo restante do mundo não se comparava com a vida
“livre” que as pessoas achavam ter quando tragavam um cigarro de maconha ou
algo similar. Sua cabeça foi entupida por ideias falsas, normalmente vindas de
pessoas falsas e sem escrúpulos. Os momentos em que decepava os detentos eram
bem melhores do que os momentos em que passava inalando a fumaça de um
“baseado”.
Rajid
foi definhando ainda mais. Não comia absolutamente nada, tudo o que tinha eram
as drogas oferecidas nas diferentes ruas pelas quais passava. Conheceu o sexo
entre seres de sexos distintos e transou com uma mulher pela primeira vez,
afinal apenas fora molestado por homens. A mulher era uma prostituta que apenas
aceitou o garoto em troca de um cigarro semi-tragado.
Contraiu
várias doenças, piorando ainda mais sua saúde que já estava perdida. Quando
matava, tinha como único objetivo conseguir mais e mais do que o mundo lhe
oferecia, não matava mais por prazer.
Ao
completar vinte anos, Rajid passara nove anos de sua vida perambulando pelas
ruas de Jacarta, procurando por drogas, bebidas e sexo fácil. Apesar desse
destino tão comum em nosso dia-a-dia, Rajid não se esquecera do seu gosto por
cantar. Quando andava embriagado ou sob o efeito das drogas, Rajid cantava
músicas, não só dos Beatles, mas de
diversas bandas que ouvia nos carros e nos autofalantes que o cercavam. Por
esse motivo, as pessoas que o conheciam o chamavam de “Sing”.
Cometera
homicídios, porém nunca eram feitas denúncias, afinal as vítimas eram drogados
ou traficantes. A polícia só localizou Rajid em 2011, caído em um beco qualquer
pelas ruas de Jacarta, vítima de uma overdose.
Um
assassino que cultivou sua mente em ambientes separados do resto do mundo,
possuía ideias sensatas e tinha um pouco de amor em seu coração, mas que
sucumbiu às seduções infalíveis para qualquer mal informado.
Por:
Anderson Vieira do Nascimento
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