domingo, 2 de agosto de 2015

Hora de voar (02/08/2015)



            
         Será que em algum momento da história da humanidade o homem chegou a ter asas? Certamente existem vários mitos que sugerem seres com a capacidade de erguer o próprio corpo mecanicamente e anatomicamente, entretanto o mito não é suficiente para suprir as necessidades dos nossos sonhos mais profundos e inalcançáveis. Apenas o fato de observar o mundo por cima não é necessariamente ter a mesma sensação de um voo verídico, pois também é possível ver o mundo por cima sem ao menos tirar os pés do chão.
            Provavelmente a nossa sociedade ainda não admitiu que o único sonho comum a todos fosse que um dia possamos ter asas. Além de existirem vários relatos sobre sonhos relacionados ao ato de voar, existem tentativas para que isso se torne realidade. Bem, a maioria dessas pessoas que tentaram levantar voo foi taxada como louca. Alguns até chegaram a considerá-los como sonhadores mesmo tendo consciência que esse sonho não era exclusivo desses supostos “loucos voadores”.
            De asas abertas, a trajetória do bico fazia o ar deslocar de tal maneira que parecia pavimentar uma estrada em pleno céu azul. O som característico de sua estrutura tornava-se um dos elementos que embelezam a paisagem entre o mar e céu aberto. Em determinados pontos do voo, parecia que a sua barriga poderia tocar a superfície a qualquer momento, entretanto o extremo controle sobre o corpo não permitia que algo assim acontecesse.
            Numa subida esplendorosa, a anatomia perfeitamente projetada para cortar os céus deixava registradas as marcas do seu caminho através da sombra na água salgada. Uma vida junto aos gases que compõem nossa atmosfera, por mais que as vidas logo abaixo dela vivessem em meio ao caos, não havia essa possibilidade de encontrar conflitos tão severos, apenas o choque perfeito entre as asas e o vento, numa relação de cooperação exemplar para qualquer ser vivo que esteja em comunidade.
          A hora de pousar está cada vez mais próxima. A sensação única de voar seria interrompida por mais alguns dias, pois nesse momento é necessário cuidar dos assuntos terrenos, nem sempre podemos viver em função apenas dos sonhos. Ao encostar os pés no chão, sentiu estranhamento, pois quando se está em voo a última coisa que iria querer seria voltar para o solo. Passo a passo seu corpo faz o caminho de volta para casa. Alguém espera sem pressa dentro do cômodo, numa oportunidade de dizer sobre a saudade que estava sentindo.
            O encontro mais que aguardado nos põe em dúvida sobre a verdadeira significado do dom da vida. Será que as habilidades que desenvolvemos ao longo do tempo podem, de alguma forma, nos dizer quem somos, o que somos e para que viemos? Creio que o fato de possuir talentos esteja mais relacionado com a vida em sociedade, afinal sempre há aquele que se destaca no meio de muitos. Entretanto, em algum momento essas habilidades individuais levarão à competição desenfreada, e isso é o que temos para hoje.
            Por isso, volto a falar da capacidade de voar. Muitos possuem essa capacidade, mas nem todos têm talento. Acontece que, quando olhamos para o céu, logicamente não encontraremos uma pessoa pairando sobre nossas cabeças, afinal não vivemos no mundo dos quadrinhos. E por que não vemos? Ora, porque somos cegos!
            O ato de voar está intimamente ligado ao dom da vida, ou seja, todos nós podemos voar, basta realmente querer. Sei que afirmações como essa fazem parte do nosso vocabulário otimista, mas nunca é tarde e nunca é inoportuno dizer estas palavras. Para muitos, a sensação de voar é parecida com a sensação de dever cumprido, desejo realizado, amores satisfeitos e até resolução de problemas simples em curto prazo. Cada um traz para a sua realidade o que seria “levantar voo”.
        Entre todas essas formas de interpretar o ato de voar, a única que se encaixa perfeitamente é a dependência que se cria por outra pessoa, pois é a partir disso que todas as outras formas de voar tornam-se realidade. Até mesmo aqueles que literalmente voam o fazem para alcançar algo ou alguém que estima. Seja a ave que sai do seu ninho em busca do alimento para os filhotes, seja a ave que tem uma paixão muito forte por aquele humano que lhe acolheu, seja o humano que embarca em um avião para encontrar aquela pessoa que não vê há muito.

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