Provavelmente a nossa sociedade
ainda não admitiu que o único sonho comum a todos fosse que um dia possamos ter
asas. Além de existirem vários relatos sobre sonhos relacionados ao ato de
voar, existem tentativas para que isso se torne realidade. Bem, a maioria
dessas pessoas que tentaram levantar voo foi taxada como louca. Alguns até
chegaram a considerá-los como sonhadores mesmo tendo consciência que esse sonho
não era exclusivo desses supostos “loucos voadores”.
De asas abertas, a trajetória do
bico fazia o ar deslocar de tal maneira que parecia pavimentar uma estrada em
pleno céu azul. O som característico de sua estrutura tornava-se um dos elementos
que embelezam a paisagem entre o mar e céu aberto. Em determinados pontos do
voo, parecia que a sua barriga poderia tocar a superfície a qualquer momento,
entretanto o extremo controle sobre o corpo não permitia que algo assim
acontecesse.
Numa subida esplendorosa, a anatomia
perfeitamente projetada para cortar os céus deixava registradas as marcas do
seu caminho através da sombra na água salgada. Uma vida junto aos gases que
compõem nossa atmosfera, por mais que as vidas logo abaixo dela vivessem em
meio ao caos, não havia essa possibilidade de encontrar conflitos tão severos,
apenas o choque perfeito entre as asas e o vento, numa relação de cooperação
exemplar para qualquer ser vivo que esteja em comunidade.
A hora de pousar está cada vez mais próxima. A
sensação única de voar seria interrompida por mais alguns dias, pois nesse
momento é necessário cuidar dos assuntos terrenos, nem sempre podemos viver em
função apenas dos sonhos. Ao encostar os pés no chão, sentiu estranhamento,
pois quando se está em voo a última coisa que iria querer seria voltar para o
solo. Passo a passo seu corpo faz o caminho de volta para casa. Alguém espera
sem pressa dentro do cômodo, numa oportunidade de dizer sobre a saudade que
estava sentindo.
O encontro mais que aguardado nos
põe em dúvida sobre a verdadeira significado do dom da vida. Será que as
habilidades que desenvolvemos ao longo do tempo podem, de alguma forma, nos dizer
quem somos, o que somos e para que viemos? Creio que o fato de possuir talentos
esteja mais relacionado com a vida em sociedade, afinal sempre há aquele que se
destaca no meio de muitos. Entretanto, em algum momento essas habilidades
individuais levarão à competição desenfreada, e isso é o que temos para hoje.
Por isso, volto a falar da
capacidade de voar. Muitos possuem essa capacidade, mas nem todos têm talento. Acontece
que, quando olhamos para o céu, logicamente não encontraremos uma pessoa
pairando sobre nossas cabeças, afinal não vivemos no mundo dos quadrinhos. E por
que não vemos? Ora, porque somos cegos!
O ato de voar está intimamente
ligado ao dom da vida, ou seja, todos nós podemos voar, basta realmente querer.
Sei que afirmações como essa fazem parte do nosso vocabulário otimista, mas
nunca é tarde e nunca é inoportuno dizer estas palavras. Para muitos, a
sensação de voar é parecida com a sensação de dever cumprido, desejo realizado,
amores satisfeitos e até resolução de problemas simples em curto prazo. Cada um
traz para a sua realidade o que seria “levantar voo”.
Entre todas essas formas de
interpretar o ato de voar, a única que se encaixa perfeitamente é a dependência
que se cria por outra pessoa, pois é a partir disso que todas as outras formas
de voar tornam-se realidade. Até mesmo aqueles que literalmente voam o fazem
para alcançar algo ou alguém que estima. Seja a ave que sai do seu ninho em
busca do alimento para os filhotes, seja a ave que tem uma paixão muito forte
por aquele humano que lhe acolheu, seja o humano que embarca em um avião para
encontrar aquela pessoa que não vê há muito.
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