domingo, 11 de janeiro de 2015

Antes de acordar (11/01/15)



Antes de acordar

            Toda vez que levanto da cama para começar o dia, tenho o costume mais do que normal de acender as luzes da sala, me dirigir ao banheiro, escovar os dentes, fazer algumas necessidades e sair para trabalhar. Muito comum para um homem solteiro que mora em um apartamento fedendo a baratas.
            Devo confessar que tenho sérios problemas com drogas, e de vez em quando eu passo naquele tal de N.A. (narcóticos anônimos) do posto de saúde, para não me sentir sozinho de certa forma. Ouço de tudo por lá, mas a história que mais me chamou a atenção foi a de um cara que disse ter perdido tudo, exceto o cachimbo que costumava usar para fumar as pedras de crack.
            Eu usei de tudo para tentar amenizar a dor que tenho em minhas costas. De tanto carregar peso durante essa vida de merda, só para ganhar uns trocados de um chefe que nem sequer sabe o seu nome. E mesmo assim eu continuo nessa vida, afinal, usar drogas acaba com seu cérebro, então não tenho muita vontade de pegar em livros para tentar mudar de situação.
            O cara do cachimbo certo dia me chamou para dar uns tragos, mas disse a ele que não uso crack, no máximo um pó e está tudo certo. Cheirada após cheirada e a dor em minhas costas pareceu ter sido anestesiada completamente naquela noite. Mas parecia não ser apenas a dor que havia acabado, minha vida não estava muito promissora daquele dia em diante.
            Quando chego do trabalho, vou assistir tevê. É incrível que um drogado como eu não tenha vendido a televisão, mas quando estou sozinho a televisão se torna uma ótima companheira. Eu penso que já estou tão fudido, que não importa se um programa de tevê tentar me convencer de algo. Eu apenas quero usar de algo para dormir, seja uma overdose, seja um pouco de mídia.
            Acordo no dia seguinte, e mais uma vez não fui capaz de sonhar. Meu trabalho se resume em levar caixas pesadas em um equipamento muito prático de transporte, mas que exige certa força. Nesses últimos tempos ela vem se esgotando cada vez mais.
            Agora todos os dias eu entro de cabeça na cocaína. Doses cavalares são como remédios de ação direta em minha coluna vertebral. Ás vezes acordo na rua.
            Fico pensando como são os zumbis. Antes deles levantarem de suas tumbas, eles devem fazer um puta esforço para chegarem a superfície.
            Ás vezes me sinto um zumbi. Me sinto tão pesado para levantar e começar um novo dia, para quando a noite chegar, eu voltar para o meu alívio, minha tumba.

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