Qualquer programador que lesse estas
palavras, imediatamente começaria a ponderar sobre os inúmeros caracteres que
se podem encaixar na linguagem da programação. Caso você seja este programador,
peço que se contenha e leia o texto até o fim e tire suas próprias conclusões. Se
não for, melhor ainda, leia mesmo assim.
Algo interessante a ser mencionado
sobre códigos é a forma como eles podem ser combinados. Desde o tempo da caça
na era pré-histórica, o código assumiu papel fundamental no modo de vida dos “homens
das cavernas”. Imagine dois Neandertais em parceria, prontos para colocar o
plano de caça em ação:
_Uga-uga-bu! Disse o Neandertal com
mais cabelo, apontando para o animal carnudo.
_Ga-bu, uga-ba! Disse o Neandertal
com menos cabelo, apontando para a lança de pedra lascada e empunhando-a logo
em seguida.
Bom, não existem registros verídicos
sobre a linguagem verbal dos homens das cavernas, muito menos se eles falavam “uga-uga”.
Entretanto, a anatomia humana é estruturada de tal maneira que, a partir dos
gestos, torna possível a representação de muitos códigos que combinados nos
apresentam determinada forma de comunicação.
A necessidade de registrar os seus
gestos fez com que aquele homem caçador passasse a pensar na melhor maneira de
traduzir estes mesmos gestos em uma linguagem. Hoje nós encontramos diversos
parques arqueológicos abarrotados de pinturas rupestres, os primeiros vestígios
dessa tentativa de registro do homem.
O tempo passou amigos, e até hoje
nós tentamos traduzir os nossos gestos em códigos. Se pensarmos bem, a nossa
vida em sociedade gira em torno disso, em traduzir nossos gestos em códigos. Neste
momento, convido o leitor a transportar seus pensamentos a uma sessão de
julgamento, no tribunal que vier à sua mente. Nesse momento, o réu recebe o
direito de falar:
_Seu juiz, o negócio é o seguinte:
Eu tô sabendo que não sou nenhum santo, mas também essas mentiras sobre a minha
pessoa eu não vou aceitar de jeito nenhum! Ora, onde já se viu acusar um homem
trabalhador como eu de ter cometido tamanha barbaridade!
...tec-tec-tec-tec-tec-tec-tec...
_Meritíssimo,
por favor… Levantou-se o advogado do réu.
_Sim, pode falar. Disse o juiz.
_Eu creio que qualquer cidadão, seja
de qualquer estrato social, jamais deveria ser acusado de um crime que, em
hipótese alguma, cometeu. Meritíssimo, desde a minha aprovação na Ordem dos
Advogados do Brasil, há trinta anos, eu jamais tolerei casos que se tratassem
de injustiça aos meus clientes, afinal a justiça deve ser feita aqui. Muito
obrigado, Meritíssimo.
... tec-tec-tec-tec-tec-tec-tec…
Você
já deve ter sacado o significado desse “tec-tec”. O escrivão é responsável por
registrar a fala de cada pessoa que tem a palavra na corte. Podemos dizer que é
o “registro do registro do código”. É interessante utilizar esse exemplo, pois
nesse caso o registro do código acaba determinando o destino daqueles que
utilizam o código. Não é a toa que “tudo aquilo que você disser será usado
contra você no tribunal”.
Tudo que dizemos no dia-a-dia, de
alguma forma acaba voltando para nós. Se eu digo alguma crítica a qualquer
pessoa, é perfeitamente compreensível que essa pessoa me devolva as mesmas
palavras, só que de uma maneira mais pessoal. O mesmo acontece se eu disser
palavras de afeto, de amor.
Mas o que aconteceria se tudo o que
for código em nosso mundo, simplesmente desaparecesse? O primeiro resultado que
eu posso adiantar para você é que este texto seria apagado de sua tela, assim
como a tela se tornaria completamente negra. Qualquer forma de escrita, ilustrações,
áudios gravados, vídeos, tudo que estivesse relacionado à informação
desapareceria completamente.
Os livros, tanto os clássicos como
os atuais se tornariam apenas papel em branco. Todos aqueles escritos que nos
auxiliam a compreender a história da humanidade não existiriam mais. Os filmes,
as músicas, as obras de arte, tudo aquilo que nos induz a emoção seria extinto
da face da Terra.
Imagine o caos que seria. Acidentes por
todas as ruas, catástrofes aéreas e até mesmo naturais, pois sabemos que, por
meio do código, o homem conseguiu deixar a natureza ao seu favor em
determinadas culturas. Além disso, a solução para tamanha tragédia não seria
visualizada nos tempos atuais.
Volte para a pré-história, naquela
mesma conversa que os Neandertais tiveram sobre o plano da caça. O Neandertal com
menos cabelo não quis saber de gesticular e acabou correndo na direção do
animal desprevenido, cravando a lança no lombo do mesmo. O animal se abateu por
um tempo. Ainda na agonia, o Neandertal olhou para o Neandertal com mais cabelo,
levantou um dos braços e flexionou seus dedos. De alguma forma, o outro
Neandertal entendeu aquela flexão de dedos como um chamamento.
Para nós, a importância do código é
inquestionável. Para que você pudesse ler este texto, se não fosse o poder do
código, isto jamais poderia ser feito. Entretanto, sempre há algo por trás de
nossos códigos. Seria o gesto? Ou seriam as nossas atitudes?
Quando agimos, raramente nos
importamos com a representação dessas atitudes em códigos. Falar é um gesto,
por exemplo, mas praticar aquilo que nós dizemos é uma atitude.
Nós precisamos registrar, mas acima
de tudo nós precisamos agir. Nós precisamos dizer às pessoas que amamos, mas
acima disso precisamos amar. Quando trocamos o simples gesto pela atitude,
estamos definitivamente quebrando os códigos.
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