A pressão do antebraço nos olhos é um sinal
claro de que Hypnos está agindo. Mas afinal, por que temos o costume de agir de
determinada forma quando estamos de frente com o sono? Às vezes os olhos pedem
por uma coceira. Às vezes os olhos ardem tanto que a única solução para aliviar
é fechá-los e abri-los só depois de algumas horas. Enfim, não tenho essa
capacidade de enumerar todos os hábitos concernentes a esses momentos de
sonolência, porém tenho a capacidade de descrever o hábito de apenas uma
pessoa.
Não estou preocupado em nomear essa pessoa,
pois o que acontece a ela/ele pode muito bem acontecer com qualquer um. E por
que pode acontecer com qualquer um? Simples, porque todos sentem sono. Acontece
que a maneira de sentir sono é exatamente igual a essência de cada um. Não é
pelo fato do ser humano bocejar que o sono é igual a todos, nem mesmo o ato de
adormecer torna o sono comum a todos os indivíduos. O fato é que o dia não é
igual para todos porque cada segundo que nossos olhos veem passar são
interpretados de maneiras muito distintas. O acúmulo desses segundos ao final
do dia resulta nele, o sono.
Vamos então conhecer o dia do nosso
personagem. Eu gostaria que sua leitura fosse a mais atenta possível, não
apenas para detectar meus erros de gramática, coesão e coerência. Tente ler e
projetar-se como personagem da narrativa. Quando ler, feche os olhos e projete
em sua mente a imagem que mais se adéqua a sua realidade. Sinta a importância
de valorizar a sua própria imaginação, pois há um universo esperando para ser
revelado pelas buscas mais profundas do seu eu. Explore esse mundo que existe
dentro de você.
Abra os seus olhos. Um lugar bem organizado começa
a surgir sob a luz de uma lâmpada fluorescente. Móveis de madeira e de metal
servem de arquivos para os mais diversos tipos de documentos. Infinitos dados
estão contidos nos papéis que lotam o espaço disponível dos armários. Sobre a
mesa de madeira logo à frente estão mais pastas e alguns livros. Há uma
sensação de conforto e logo percebe que não está de pé, pois uma cadeira
giratória estofada sustenta o seu corpo. Uma tela de computador emite uma luz
intensa que aos poucos começa a apresentar vários códigos. Nada tão importante.
Com um rápido movimento dos olhos é possível perceber uma máquina presa ao
teto. De alguma forma o frio que faz nessas quatro paredes parece vir dessa
máquina.
Os dedos de ambas as mãos são direcionados
para o teclado do computador. A rapidez para digitar é evidente e logo a tela
fica repleta de letras e números. O que está escrito? Não sei, para mim é
ilegível. A repetição dos movimentos depois de muitos minutos torna-se
exageradamente exaustiva. Aos poucos a velocidade dos dedos é reduzida. O apoio
dos braços é útil para se levantar daquela prisão burocrática. Com poucos
passos é o suficiente para chegar à janela com persianas. O puxão da cordinha
revela o luar e bate aquela vontade de sair e pegar aquele sereno. Bem, você
pode respirar aliviado (a), pois logo será a hora de apagar as luzes, apertar
aquele botão “desligar”, trancar a porta do escritório e ir de encontro à
liberdade relativa.
Do frio do ar condicionado ao frio da noite. Ainda
não podemos dizer que é o frio natural, pois existem coisas como fumaça,
poluição, sonora, visual. O ambiente é movimentado, barulhento e claro, cheio
de pessoas. A música alta e automotiva mistura-se aos goles de cerveja, aos
tragos de cigarro, às discussões sobre futebol, moda, artistas, economia,
política, trivialidades e mais música. Nem tudo é farra, basta observar a
quantidade de pessoas que não param de passar em seus carros. Expressões felizes,
cansadas, tristes, neutras. Alguns carros passam e não param. Outros param, mas
precisam avistar algum braço levantado para tal.
Enfim, o movimento do ambiente distancia-se
cada vez mais. Ao longe ainda é possível identificar luzes, resquícios da
baderna, do compromisso, da luta noturna. A espera enquanto se movimenta é
muito mais produtiva do que a espera estática, ainda mais quando se tem a
certeza de que algum lar nos espera, um lagar para esticar o corpo, encostar a
cabeça. Bom, não é?
É inevitável. Existem certas coisas que são
tão fortes em nosso interior que são capazes de derrubar qualquer tipo de
anseio, seja ele físico ou mental. Seus olhos estão fixos para um objetivo
específico e muito simples de ser alcançado: basta ceder ao deus que alivia o
físico e o mental. Feche os olhos, por favor.
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