domingo, 20 de setembro de 2015

Boa noite (20/09/2015)



A pressão do antebraço nos olhos é um sinal claro de que Hypnos está agindo. Mas afinal, por que temos o costume de agir de determinada forma quando estamos de frente com o sono? Às vezes os olhos pedem por uma coceira. Às vezes os olhos ardem tanto que a única solução para aliviar é fechá-los e abri-los só depois de algumas horas. Enfim, não tenho essa capacidade de enumerar todos os hábitos concernentes a esses momentos de sonolência, porém tenho a capacidade de descrever o hábito de apenas uma pessoa.
Não estou preocupado em nomear essa pessoa, pois o que acontece a ela/ele pode muito bem acontecer com qualquer um. E por que pode acontecer com qualquer um? Simples, porque todos sentem sono. Acontece que a maneira de sentir sono é exatamente igual a essência de cada um. Não é pelo fato do ser humano bocejar que o sono é igual a todos, nem mesmo o ato de adormecer torna o sono comum a todos os indivíduos. O fato é que o dia não é igual para todos porque cada segundo que nossos olhos veem passar são interpretados de maneiras muito distintas. O acúmulo desses segundos ao final do dia resulta nele, o sono.
Vamos então conhecer o dia do nosso personagem. Eu gostaria que sua leitura fosse a mais atenta possível, não apenas para detectar meus erros de gramática, coesão e coerência. Tente ler e projetar-se como personagem da narrativa. Quando ler, feche os olhos e projete em sua mente a imagem que mais se adéqua a sua realidade. Sinta a importância de valorizar a sua própria imaginação, pois há um universo esperando para ser revelado pelas buscas mais profundas do seu eu. Explore esse mundo que existe dentro de você.
Abra os seus olhos. Um lugar bem organizado começa a surgir sob a luz de uma lâmpada fluorescente. Móveis de madeira e de metal servem de arquivos para os mais diversos tipos de documentos. Infinitos dados estão contidos nos papéis que lotam o espaço disponível dos armários. Sobre a mesa de madeira logo à frente estão mais pastas e alguns livros. Há uma sensação de conforto e logo percebe que não está de pé, pois uma cadeira giratória estofada sustenta o seu corpo. Uma tela de computador emite uma luz intensa que aos poucos começa a apresentar vários códigos. Nada tão importante. Com um rápido movimento dos olhos é possível perceber uma máquina presa ao teto. De alguma forma o frio que faz nessas quatro paredes parece vir dessa máquina.
Os dedos de ambas as mãos são direcionados para o teclado do computador. A rapidez para digitar é evidente e logo a tela fica repleta de letras e números. O que está escrito? Não sei, para mim é ilegível. A repetição dos movimentos depois de muitos minutos torna-se exageradamente exaustiva. Aos poucos a velocidade dos dedos é reduzida. O apoio dos braços é útil para se levantar daquela prisão burocrática. Com poucos passos é o suficiente para chegar à janela com persianas. O puxão da cordinha revela o luar e bate aquela vontade de sair e pegar aquele sereno. Bem, você pode respirar aliviado (a), pois logo será a hora de apagar as luzes, apertar aquele botão “desligar”, trancar a porta do escritório e ir de encontro à liberdade relativa.
Do frio do ar condicionado ao frio da noite. Ainda não podemos dizer que é o frio natural, pois existem coisas como fumaça, poluição, sonora, visual. O ambiente é movimentado, barulhento e claro, cheio de pessoas. A música alta e automotiva mistura-se aos goles de cerveja, aos tragos de cigarro, às discussões sobre futebol, moda, artistas, economia, política, trivialidades e mais música. Nem tudo é farra, basta observar a quantidade de pessoas que não param de passar em seus carros. Expressões felizes, cansadas, tristes, neutras. Alguns carros passam e não param. Outros param, mas precisam avistar algum braço levantado para tal.
Enfim, o movimento do ambiente distancia-se cada vez mais. Ao longe ainda é possível identificar luzes, resquícios da baderna, do compromisso, da luta noturna. A espera enquanto se movimenta é muito mais produtiva do que a espera estática, ainda mais quando se tem a certeza de que algum lar nos espera, um lagar para esticar o corpo, encostar a cabeça. Bom, não é?
É inevitável. Existem certas coisas que são tão fortes em nosso interior que são capazes de derrubar qualquer tipo de anseio, seja ele físico ou mental. Seus olhos estão fixos para um objetivo específico e muito simples de ser alcançado: basta ceder ao deus que alivia o físico e o mental. Feche os olhos, por favor.

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