quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Supervisores de máquinas - 17/10/2018



   A gota de suor escorre pela mandíbula exausta após mais um esforço de ser violento, artísticamente falando. É um daqueles momentos de exaustão prazerosa, na qual é possível liberal sentimentos negativos e, paradoxalmente, positivos, a partir do momento em que o alvo de agrado não é apenas o sujeito. A respiração ofegante ressoa nos amplificadores, mas o som é imperceptível vista a agitação daqueles que reservaram um tempo apenas para ver o que aquela figura exótica de cabelos longos tem a oferecer.
   O microfone, perigosamente umedecido, é apenas uma ferramenta para expressar a euforia de executar aqueles acordes difíceis, riffs velozes e catalisadores para a agressividade daquilo que chamamos de música extrema. O conteúdo lírico das composições normalmente é padrão para esse tipo de som, o que não é interpretado de forma negativa por aqueles que gostam do estilo, afinal é o que deixa a marca, é o que passa o sentimento daqueles que sentem prazer ao ouvir e “bater cabeça” ao mesmo tempo. Imagine todo o momento como uma grande máquina em funcionamento: o propósito da máquina é produzir som alto, estimulante e indispensavelmente agressivo. Os speakers da máquina seriam representados pela figura do vocalista. Os braços mecânicos e as engrenagens, que produzem som durante o atrito e trabalham em perfeita sincronia seriam as guitarras. A graxa e o óleo, responsáveis por fazer o atrito das engrenagens mais rápido e mais suave, apesar da agressividade dos movimentos, seria representados pelo baixo. O motor, dependente das engenagens e necessário às mesmas, trabalhando em conjunto para manter a máquina funcionando a todo vapor, seria a bateria, incansável.
   Entre uma música e outra, há um sentimento bastante confuso, pois há uma mistura de felicidade por ter acabado de escutar a música querida com a tristeza pelo mesmo motivo, o que é imediatamente substituído pela felicidade no início de mais uma música e que logo se torna confuso por definitivo quando a apresentação acaba.
   Normalmente as apresentações acontecem à noite e em lugares fechados, mais pela temática noturna do que pela acústica, o que caracteriza bem o cenário que aprendemos a chamar de underground. Todos os que assistem às apresentações querem escutar uma boa música, fazer parte do momento, curtir algumas horas com os amigos e logo depois voltarem às suas vidas.
   O jeito violento de expressar paixão pela música pode ser incompreendido por pessoas fora desse contexto, mas a ideia por trás de um famigerado moshpit, é comparável ao que os espectadores de uma orquestra sinfônica manifestam ao ouvir as peças clássicas. O fato de ser diferente não torna a música moderna, mas torna-se adequada para aqueles que procuram algum jeito de relacionar os sentimentos mais profundos com algo que reúna várias pessoas, o que é completamente contrário à noção de solidão dos ouvintes.

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